Filipa Dias - Consultoria de Envelhecimento

Outubro 07, 2025

O seu familiar com demência chama por pessoas que já faleceram? 8 estratégias práticas

Tempo de Leitura: 5 minutos

Hoje trago-lhe uma das situações mais difíceis para quem cuida.

Quando a pessoa idosa com demência chama por alguém que já morreu.

Antes de avançar, uma nota importante: o que resulta depende sempre da pessoa, do estadio da demência, da fase do dia e até de como foi aquele dia em particular.

Nem todas as estratégias funcionam sempre da mesma forma. É preciso observar, testar e ajustar.

Nos estadios iniciais, muitas vezes ainda é possível adaptar-se ao momento.

Por que é que a reação mais comum falha? A tendência é corrigir: “Já morreu há muitos anos.”

E o que acontece? A pessoa recebe a notícia como se fosse a primeira vez.

O choque, o choro, o luto reaberto.

Minutos depois, pergunta de novo.

O cérebro já não guarda o facto, mas guarda a emoção da perda.

E o ciclo repete-se.

O que está mesmo a acontecer?

Quando chama pela mãe ou pelo marido, não está a pedir factos. Está a pedir segurança.

O passado e o presente confundem-se.

E a pergunta “onde está a minha mãe?” significa muitas vezes:

“Onde está aquilo que me fazia sentir protegida?”

Estratégias que recomendo às famílias:

1. Validar primeiro, redirecionar logo a seguir

Evite corrigir. Diga:

“Tem saudades da sua mãe, eu compreendo..."

“Era mesmo especial para si.”

E logo a seguir, encaminhe a atenção para algo positivo:

“Lembro-me daquele bacalhau com natas que vocês faziam... como é que era?”

Assim, a emoção é reconhecida e a conversa ganha outro rumo.

2. Usar respostas com tempo ambíguo, mas dar continuidade

Nem “vem já”, nem “já morreu”.

“Ela não pode vir agora, mas estava sempre consigo.”​

E depois, traga uma ação:

“Enquanto esperamos, ajude-me, por favor, a pôr a mesa?”

Desta forma, a espera transforma-se em ocupação significativa.

3. Identificar gatilhos e preparar o ambiente

Se pergunta sempre ao fim do dia, antecipe esse momento.

Ligue uma música calma, mostre fotografias familiares, esteja por perto.

Validar e redirecionar funciona melhor quando o ambiente já está protegido.

4. Mentira terapêutica enraizada na história de vida

Se fazia turnos: “Está a trabalhar de noite, chega amanhã.”

Se era pescador: “Foi à pesca, deve demorar.”

E logo a seguir, envolver a pessoa: “Enquanto isso, ajuda-me aqui com esta sopa.”

A mentira terapêutica não é fim em si mesma, mas sim uma ponte para nova ação.

5. Telefonema ou mensagem de tranquilização

Quando nada resulta, simular um telefonema pode acalmar.

“Já lhe liguei, disse que se atrasou.”

E de imediato mude o foco:

“Enquanto esperamos, vamos ver estas fotografias...”

6. Criar um cantinho das memórias

Um espaço com fotografias, uma manta, um objeto significativo.

Quando surge a saudade, pode dizer:

“Vamos até ao seu cantinho, pode ser?"

Validar, redirecionar e proporcionar conforto físico no mesmo gesto.

7. Dar sempre um papel útil

Depois de acolher a emoção, ofereça uma tarefa simples:

“Pode ajudar-me a dobrar estas toalhas?”

Isto devolve identidade e acalma.

Mesmo que não fique perfeito, o objetivo é o bem-estar.

8. Reduzir estímulos que aumentam a confusão

Som alto, sombras, espelhos, televisão com notícias perturbadoras… tudo isto pode intensificar a procura por quem já faleceu.

Ambiente calmo + validação + redirecionamento prático = maior tranquilidade.

Como ajustar por estadio?

- Estadio inicial: por vezes ainda é possível dizer a verdade curta (“Sim, já não está connosco.”) seguida de validação e redirecionamento.

- Estadio intermédio: memória recente já muito frágil; corrigir só causa dor. Aqui a regra é validar, redirecionar e aplicar mentiras terapêuticas contextualizadas.
- Estadio avançado: já não compreende factos. A resposta é sobretudo emocional: toque, tom de voz, presença física.

O essencial não é esconder a verdade.

É proteger o bem-estar naquele momento.

Validar, redirecionar e agir de forma prática são os três passos que fazem a diferença.

Um abraço,
Filipa

Filipa da Fonseca Dias - Consultoria de Envelhecimento, Lda - Todas os direitos reservados.


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