Outubro 14, 2025
Tempo de Leitura: 4 minutos
Hoje vou mostrar porque é que o seu familiar com demência recusa o prato principal, mas mal ouve falar em gelado diz logo que sim, e como lidar com isso.
Quando não se entende o que está a acontecer no cérebro da pessoa, tenta-se resolver com lógica:
“Tem de comer a sopa primeiro.”
"O bolo é só depois do almoço.”
“Não pode comer só doces.”
E pior, acabamos muitas vezes a tratar a pessoa como se fosse uma criança.
As papilas gustativas do sabor doce são as últimas a perder-se na demência.
Enquanto o salgado, o azedo e o amargo deixam de fazer sentido, o doce continua a ser reconhecido como algo seguro, familiar e agradável.
Por isso, quando recusa o prato principal e pede uma torrada com doce, não está a “fazer fita”.
Está a procurar uma sensação que o seu cérebro ainda entende.
Problema: o excesso de açúcar tem consequências: desidrata, provoca apatia e confusão, fragiliza o sistema imunitário e acelera a perda de massa muscular.
Numa pessoa com diabetes, o risco é ainda maior.
O segredo está no equilíbrio: respeitar o prazer do sabor doce, sem perder o valor nutricional.
Aqui ficam 8 formas práticas de o conseguir, sempre ajustando à fase da demência e às indicações do médico ou nutricionista.
1. Evite o confronto alimentar
O confronto aumenta a resistência e o stress.
Se a pessoa pede doce, reconheça o pedido e redirecione: “Já sei, gosta tanto do seu docinho, não é? Olha este pudim que eu trouxe''
E apresenta um pudim proteico.
Use o momento do doce como reforço positivo.
2. Substitua o doce industrial por doce natural
Prefira fruta madura, maçã assada, banana esmagada, pêra cozida com canela ou compotas sem açúcar.
A canela e a baunilha ajudam a dar sabor doce sem necessidade de açúcar.
Os iogurtes de proteína são bons aliados: têm textura cremosa, saciam e acrescentam valor nutricional.
3. Transforme a proteína em sobremesa
A proteína é essencial, mas é das primeiras coisas a ser recusada.
Use-a de forma disfarçada: panquecas proteícas de banana e ovo, mousses proteícas ou gelados de iogurte de proteína com pedaços de fruta.
São alternativas agradáveis, nutritivas e ajudam a preservar a força muscular.
4. Controle o acesso aos doces prontos
Em vez de deixar o pacote de bolachas à vista, coloque apenas algumas num frasco e reponha diariamente.
Assim, a pessoa sente que tem liberdade, mas o consumo fica controlado.
Evita-se o risco de comer por impulso e o ambiente mantém-se tranquilo.
5. Ofereça alternativas frescas e nutritivas
Os gelados de fruta caseira, os gelados de iogurte de proteína ou os gelados de água saborizada com pedaços de fruta são excelentes substitutos dos gelados tradicionais.
Mantêm o sabor agradável, favorecem a hidratação e podem ser adaptados às preferências da pessoa.
6. Simplifique o prato principal
Reduza o número de alimentos no prato e adapte as texturas.
Comer carne estufada com batatas pode ser mais complicado, mas um empadão com a mesma carne desfiada é mais fácil de mastigar.
A confusão visual e o esforço de mastigação são causas frequentes de recusa alimentar.
7. Use rotinas e horários consistentes
O corpo da pessoa com demência responde melhor à previsibilidade.
Sirva as refeições sempre à mesma hora e no mesmo local, com o mesmo tipo de prato e utensílios.
A segurança do ritual reduz ansiedade e melhora o apetite.
8. Use o doce como ponte para outros alimentos
O sabor doce pode ser o ponto de partida para introduzir outros alimentos.
Exemplo: Se aprecia gelado, misture fruta triturada ou iogurte de proteína.
A familiaridade do doce ajuda a aceitar sabores novos e a aumentar o valor nutricional da refeição.
Estas estratégias não são rígidas.
O que resulta com uma pessoa pode não resultar com outra.
Depende do estadio da demência, das preferências antigas e da rotina familiar.
O objetivo é simples: manter o prazer de comer, garantir a nutrição e preservar a dignidade.
Um abraço,
Filipa
Filipa da Fonseca Dias - Consultoria de Envelhecimento, Lda - Todas os direitos reservados.