Filipa Dias - Consultoria de Envelhecimento

Outubro 14, 2025

O seu familiar com demência só quer comer doces? 8 estratégias para garantir a qualidade da alimentação

Tempo de Leitura: 4 minutos

Hoje vou mostrar porque é que o seu familiar com demência recusa o prato principal, mas mal ouve falar em gelado diz logo que sim, e como lidar com isso.

Quando não se entende o que está a acontecer no cérebro da pessoa, tenta-se resolver com lógica:

“Tem de comer a sopa primeiro.”​
​"O bolo é só depois do almoço.”​
​“Não pode comer só doces.”

E pior, acabamos muitas vezes a tratar a pessoa como se fosse uma criança.

A preferência por doces não é teimosia, é neurologia.

As papilas gustativas do sabor doce são as últimas a perder-se na demência.

Enquanto o salgado, o azedo e o amargo deixam de fazer sentido, o doce continua a ser reconhecido como algo seguro, familiar e agradável.

Por isso, quando recusa o prato principal e pede uma torrada com doce, não está a “fazer fita”.

Está a procurar uma sensação que o seu cérebro ainda entende.

Problema: o excesso de açúcar tem consequências: desidrata, provoca apatia e confusão, fragiliza o sistema imunitário e acelera a perda de massa muscular.

Numa pessoa com diabetes, o risco é ainda maior.

O segredo está no equilíbrio: respeitar o prazer do sabor doce, sem perder o valor nutricional.

Aqui ficam 8 formas práticas de o conseguir, sempre ajustando à fase da demência e às indicações do médico ou nutricionista.


1. Evite o confronto alimentar

O confronto aumenta a resistência e o stress.

Se a pessoa pede doce, reconheça o pedido e redirecione: “Já sei, gosta tanto do seu docinho, não é? Olha este pudim que eu trouxe''

E apresenta um pudim proteico.

Use o momento do doce como reforço positivo.

2. Substitua o doce industrial por doce natural

Prefira fruta madura, maçã assada, banana esmagada, pêra cozida com canela ou compotas sem açúcar.

A canela e a baunilha ajudam a dar sabor doce sem necessidade de açúcar.

Os iogurtes de proteína são bons aliados: têm textura cremosa, saciam e acrescentam valor nutricional.

3. Transforme a proteína em sobremesa

A proteína é essencial, mas é das primeiras coisas a ser recusada.

Use-a de forma disfarçada: panquecas proteícas de banana e ovo, mousses proteícas ou gelados de iogurte de proteína com pedaços de fruta.

São alternativas agradáveis, nutritivas e ajudam a preservar a força muscular.

4. Controle o acesso aos doces prontos

Em vez de deixar o pacote de bolachas à vista, coloque apenas algumas num frasco e reponha diariamente.

Assim, a pessoa sente que tem liberdade, mas o consumo fica controlado.

Evita-se o risco de comer por impulso e o ambiente mantém-se tranquilo.

5. Ofereça alternativas frescas e nutritivas

Os gelados de fruta caseira, os gelados de iogurte de proteína ou os gelados de água saborizada com pedaços de fruta são excelentes substitutos dos gelados tradicionais.

Mantêm o sabor agradável, favorecem a hidratação e podem ser adaptados às preferências da pessoa.

6. Simplifique o prato principal

Reduza o número de alimentos no prato e adapte as texturas.

Comer carne estufada com batatas pode ser mais complicado, mas um empadão com a mesma carne desfiada é mais fácil de mastigar.

A confusão visual e o esforço de mastigação são causas frequentes de recusa alimentar.

7. Use rotinas e horários consistentes

O corpo da pessoa com demência responde melhor à previsibilidade.

Sirva as refeições sempre à mesma hora e no mesmo local, com o mesmo tipo de prato e utensílios.

A segurança do ritual reduz ansiedade e melhora o apetite.

8. Use o doce como ponte para outros alimentos

O sabor doce pode ser o ponto de partida para introduzir outros alimentos.

Exemplo: Se aprecia gelado, misture fruta triturada ou iogurte de proteína.

A familiaridade do doce ajuda a aceitar sabores novos e a aumentar o valor nutricional da refeição.

Estas estratégias não são rígidas.

O que resulta com uma pessoa pode não resultar com outra.

Depende do estadio da demência, das preferências antigas e da rotina familiar.

O objetivo é simples: manter o prazer de comer, garantir a nutrição e preservar a dignidade.

Um abraço,
Filipa

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