Setembro 9, 2025
Tempo de Leitura: 3 minutos
Hoje vou mostrar-lhe o que fazer quando o seu familiar com demência repete: “Quero ir para casa”, mesmo já lá estando.
Este momento desgasta muitas famílias.
A reação natural é tentar resolver com lógica: “Mas está em casa, esta é a sua casa.”
Só que a lógica já não funciona.
O problema não é a informação, é a perceção neurológica do que “casa” significa.
Aqui seguem as estratégias que recomendo às famílias que acompanhamos:
1. Observe o padrão
Verifique se o pedido acontece em horários específicos (por exemplo, ao final da tarde, típico da Síndrome do Pôr do Sol). Identifique o que costuma acontecer antes e depois. Anote num caderno possíveis gatilhos: fome, cansaço, solidão, excesso de estímulos.
2. Rotinas como base e prevenção
Uma rotina estruturada diminui a confusão e antecipa necessidades. Use rituais diários previsíveis: um chá à mesma hora, sentar na cadeira habitual, ouvir sempre a mesma música antes de deitar. A consistência reduz a frequência do “quero ir para casa”, porque a pessoa sente-se mais segura.
3. Pergunte, não corrija
Em vez de dizer “já está em casa”, faça perguntas: “De que casa fala? Tinha quintal? Quem vivia consigo?”. Mostre interesse e depois valide: “Percebo que tenha saudades dessa casa.”. A curiosidade abre espaço à memória emocional e evita confronto.
4. Redirecione para atividades significativas
Depois de validar, envolva a pessoa noutra ação: ver fotografias, mexer em objetos antigos, dobrar roupa, ouvir músicas conhecidas. Atividades familiares transportam a atenção e trazem conforto.
5. Dê respostas de compromisso quando necessário
Muitas vezes, “ir para casa” é expressão de insegurança. Nesses casos, respostas simples ajudam:
“Sim, vamos para casa depois do jantar.” ou “Hoje ficamos aqui e amanhã vemos isso.”
Estas respostas não são mentira no sentido comum. São uma forma de dar descanso à ansiedade.
6. Use espaços de conforto
Ir ao quarto pode ajudar, pois muitas vezes é o lugar mais associado a repouso. Se houver quintal ou jardim, dê uma pequena volta e regresse depois a casa — este “ritual de retorno” pode acalmar.
7. Verifique necessidades básicas escondidas
O pedido pode ser sinal de frio, dor, fome ou necessidade de companhia. Garanta conforto físico (cobertor, luz suave, ambiente calmo). Verifique se há medicação em atraso ou sintomas físicos a tratar.
8. Ajuste às capacidades e estadio da demência
Nas fases mais iniciais, a pessoa pode responder melhor a explicações simples. Nos estadios moderados e avançados, as explicações já não são eficazes : importa sobretudo oferecer segurança emocional e reduzir estímulos.
9. Adapte a linguagem e o tom
Fale devagar, em frases curtas, sem corrigir com insistência. O tom calmo e próximo é mais importante do que as palavras.
10. Se nada resultar, aceite flexibilidade
Nem sempre vai conseguir resolver o pedido na hora. O objetivo não é convencer com lógica, mas acalmar e proteger a relação.
O essencial é entender que:
O pedido para “ir para casa” é uma manifestação de confusão e procura de segurança.
A resposta tem de ser flexível, ajustada ao estadio da demência e às necessidades reais da pessoa.
Rotinas estruturadas, validação da emoção, redirecionamento e estratégias de conforto são as ferramentas mais eficazes.
Um abraço,
Filipa
Filipa da Fonseca Dias - Consultoria de Envelhecimento, Lda - Todas os direitos reservados.