Filipa Dias - Consultoria de Envelhecimento

Setembro 9, 2025

O seu familiar com demência insiste que "quer ir para casa"? As 10 estratégias que já implementámos com sucesso junto das famílias que acompanhamos

Tempo de Leitura: 3 minutos

Hoje vou mostrar-lhe o que fazer quando o seu familiar com demência repete: “Quero ir para casa”, mesmo já lá estando.

Este momento desgasta muitas famílias.

A reação natural é tentar resolver com lógica: “Mas está em casa, esta é a sua casa.”​

Só que a lógica já não funciona.

O problema não é a informação, é a perceção neurológica do que “casa” significa.

“Casa” não é apenas um lugar físico - é uma sensação de segurança que o cérebro já não reconhece.

Aqui seguem as estratégias que recomendo às famílias que acompanhamos:

1. Observe o padrão

Verifique se o pedido acontece em horários específicos (por exemplo, ao final da tarde, típico da Síndrome do Pôr do Sol). Identifique o que costuma acontecer antes e depois. Anote num caderno possíveis gatilhos: fome, cansaço, solidão, excesso de estímulos.

2. Rotinas como base e prevenção

Uma rotina estruturada diminui a confusão e antecipa necessidades. Use rituais diários previsíveis: um chá à mesma hora, sentar na cadeira habitual, ouvir sempre a mesma música antes de deitar. A consistência reduz a frequência do “quero ir para casa”, porque a pessoa sente-se mais segura.

3. Pergunte, não corrija

Em vez de dizer “já está em casa”, faça perguntas: “De que casa fala? Tinha quintal? Quem vivia consigo?”. Mostre interesse e depois valide: “Percebo que tenha saudades dessa casa.”. A curiosidade abre espaço à memória emocional e evita confronto.

4. Redirecione para atividades significativas

Depois de validar, envolva a pessoa noutra ação: ver fotografias, mexer em objetos antigos, dobrar roupa, ouvir músicas conhecidas. Atividades familiares transportam a atenção e trazem conforto.

5. Dê respostas de compromisso quando necessário

Muitas vezes, “ir para casa” é expressão de insegurança. Nesses casos, respostas simples ajudam:

​“Sim, vamos para casa depois do jantar.” ou “Hoje ficamos aqui e amanhã vemos isso.”
​​
Estas respostas não são mentira no sentido comum. São uma forma de dar descanso à ansiedade.

6. Use espaços de conforto

Ir ao quarto pode ajudar, pois muitas vezes é o lugar mais associado a repouso. Se houver quintal ou jardim, dê uma pequena volta e regresse depois a casa — este “ritual de retorno” pode acalmar.

7. Verifique necessidades básicas escondidas

O pedido pode ser sinal de frio, dor, fome ou necessidade de companhia. Garanta conforto físico (cobertor, luz suave, ambiente calmo). Verifique se há medicação em atraso ou sintomas físicos a tratar.

8. Ajuste às capacidades e estadio da demência

Nas fases mais iniciais, a pessoa pode responder melhor a explicações simples. Nos estadios moderados e avançados, as explicações já não são eficazes : importa sobretudo oferecer segurança emocional e reduzir estímulos.

9. Adapte a linguagem e o tom

Fale devagar, em frases curtas, sem corrigir com insistência. O tom calmo e próximo é mais importante do que as palavras.

10. Se nada resultar, aceite flexibilidade

Nem sempre vai conseguir resolver o pedido na hora. O objetivo não é convencer com lógica, mas acalmar e proteger a relação.


O essencial é entender que:

O pedido para “ir para casa” é uma manifestação de confusão e procura de segurança.
A resposta tem de ser flexível, ajustada ao estadio da demência e às necessidades reais da pessoa.
Rotinas estruturadas, validação da emoção, redirecionamento e estratégias de conforto são as ferramentas mais eficazes.

Um abraço,
Filipa

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