Agosto 12, 2025
Tempo de Leitura: 3 minutos
Hoje vou mostrar-lhe como resolver uma das situações mais stressantes no cuidado diário: quando a pessoa com demência recusa beber água.
Este é um momento que desgasta muitas famílias.
Quando não compreendemos o que está a acontecer no cérebro da pessoa, tentamos resolver com lógica. Mas a lógica, neste caso, não é suficiente.
A maioria das pessoas tenta fazer o que sempre resultou: explicar que precisa de beber, insistir que faz bem.
Num cérebro com demência, o centro da sede no cérebro pode ficar comprometido. A pessoa genuinamente não sente que precisa de se hidratar. É como ter um alarme de incêndio avariado: o perigo existe, mas o alarme não dispara.
E quando o corpo não recebe o que precisa, manifesta-se de formas que só geram mais stress para todos os envolvidos: confusão mental súbita, agitação inexplicável, quedas, obstipação, infeções urinárias.
Perante este cenário, é muito fácil achar que "a demência está a piorar", quando na verdade pode ser apenas desidratação.
Aqui seguem as 8 estratégias que implementámos com sucesso junto das famílias que acompanhamos.
1 - Estratégia das duas opções
Em vez de perguntar "quer beber água?", apresente duas alternativas: "Prefere chá de camomila ou água com limão?" A escolha preserva a autonomia, mas ambas as opções hidratam.
2 - Transforme a água em algo com sabor familiar
Adicione rodelas de limão, laranja ou morango fresco. Águas com sabor natural (pêssego, maçã) funcionam porque despertam memórias positivas. Chás de ervas frios como camomila, tília ou cidreira trazem conforto emocional.
3 - Use texturas alternativas
Gelatinas caseiras contam como hidratação e são vistas como "sobremesa". Frutas com alto teor de água (melancia, melão, pêra madura, uvas), gelados de fruta natural, sopas frias tipo gaspacho - tudo hidrata sem parecer obrigação.
4 - Técnica do Espelho
Sente-se ao lado da pessoa com o seu próprio copo e beba. O cérebro com demência tende a responder melhor à imitação do que a instruções diretas.
5 - Aposte na apresentação
Use copos pequenos e coloridos (volumes menores são menos intimidantes). Mantenha água sempre fresca e visível. Uma garrafa térmica na mesa de apoio pode fazer toda a diferença.
6 - Crie rituais reconfortantes
Transforme a hidratação num pequeno ritual - "o chá das cinco", "a água fresca da tarde". Quando há rotina e contexto emocional, a resistência diminui.
7 - Quantidades pequenas e frequentes
Não force um copo inteiro. Estabeleça rotinas, ofereça goles regulares ao longo do dia, aproveitando os momentos de calma. Idealmente, de 2h em 2h.
8 - Registe os horários em que a aceitação é melhor
Este mapeamento pode ajudar a criar uma rotina mais eficaz e com menos stress. Se funcionou bem uma vez, experimente repetir no mesmo horário.
Sinais de alerta para agir rapidamente
Urina muito escura, lábios secos, pele que demora a voltar ao lugar quando "beliscada", confusão mental súbita ou agitação inexplicável. Nestes casos, procure ajuda médica.
A desidratação é uma causa silenciosa de muito sofrimento desnecessário. Mas também é uma das mais fáceis de prevenir, quando se sabe como.
Um abraço,
Filipa
Filipa da Fonseca Dias - Consultoria de Envelhecimento, Lda - Todas os direitos reservados.