Setembro 2, 2025
Tempo de Leitura: 3 minutos
Hoje vou mostrar-lhe como lidar quando o seu familiar idoso com demência recusa comer ou empurra o prato.
Este momento desgasta muitas famílias, especialmente porque a recusa pode ter consequências graves.
Quando não se entende o que está a acontecer no cérebro da pessoa, tenta-se resolver com insistência:
“Come só mais uma colher.”
“Tens de comer carne para ganhar força.”
Mas a lógica já não chega.
Em primeiro lugar, importa entender por que é que esta recusa acontece:
Fases iniciais: a pessoa esquece-se de comer ou perde a noção das rotinas.
Fases moderadas: já não sabe como aquecer ou preparar a refeição, mas não o assume.
Alterações físicas: dores de dentes, próteses mal adaptadas, feridas na boca.
Dificuldades de deglutição: risco de engasgamento.
Alterações sensoriais: sabores e cheiros distorcidos.
Depois, quais as estratégias a utilizar. Seguem as 13 que já implementámos com sucesso junto das famílias que acompanhamos:
1. Respeite a “janela de fome”
Seja às 10h ou às 16h, concentre a refeição principal na altura em que a pessoa mostra mais vontade de comer.
2. Simplifique o prato
Uma sopa cremosa é mais fácil de aceitar do que um prato cheio de componentes.
3. Apoio silencioso
Sirva comida já pronta, morna e em porções simples. Retira o peso da preparação, sem infantilizar.
4. Atenção à boca
Pequenas lesões podem explicar grandes recusas. Vale a pena avaliar dentes, gengivas e próteses.
5. Ajustar consistências
Purés, sopas enriquecidas ou líquidos espessados evitam engasgamentos.
6. Método da companhia
Sentar-se ao lado e comer também ajuda a despertar o reflexo social de imitação.
7. Flexibilizar regras
Se só aceita pão com doce, ofereça. É melhor comer algo do que nada.
8. Comida pronta em casa
Refeições já feitas e entregues evitam a exigência de cozinhar ou aquecer. É meio caminho para garantir que há algo acessível e apetecível.
9. Lembretes simples
Notas visuais no frigorífico ou alarmes no telemóvel com mensagens como “Tens comida pronta” ajudam a compensar a falha de memória.
10. Finger food
Quando já não se sente confortável a usar talheres, ofereça alimentos que se comem com a mão: pedaços de fruta, ovos cozidos, pequenas sandes. A autonomia aumenta a aceitação.
11. Sabores intensos e fáceis de mastigar
Queijos suaves, purés com temperos familiares, peixe desfiado com azeite. Estimular o prazer do paladar facilita a ingestão.
12. Gostos prévios
Respeitar a história alimentar da pessoa é crucial. Pergunte: “O que é que sempre gostou?” Regressar a sabores familiares traz conforto.
13. Consistência em vez de invenção
Se há um prato que funciona bem, repita-o. Nesta fase, mais vale monotonia aceitável do que variedade recusada.
Nota final: A importância da proteína
Com a progressão da demência, muitas vezes a carne e o peixe são rejeitados. No entanto, a proteína é essencial para manter massa muscular, reduzir risco de quedas, fortalecer a imunidade e apoiar a recuperação após infeções.
Na sopa: adicione carne picada, peixe desfiado ou ovo cozido triturado.
Refeições fáceis de mastigar: empadão, puré, medalhões de pescada sem espinhas, massa, estufados
Com laticínios: ofereça iogurtes proteicos ou leite enriquecido em proteína.
Com sobremesas: pudins, gelatinas com proteína ou batidos são alternativas frescas e agradáveis.
Com leguminosas: feijão, grão e lentilhas triturados tornam a sopa mais nutritiva e fáceis de engolir.
👉 A regra é simples: esconder a proteína nos alimentos que já são aceites.
Estas adaptações não são "truques".
São formas de respeitar o cérebro que já não consegue lidar com a complexidade, mas que ainda precisa de alimento para se manter forte.
Um abraço,
Filipa
Filipa da Fonseca Dias - Consultoria de Envelhecimento, Lda - Todas os direitos reservados.