Filipa Dias - Consultoria de Envelhecimento

Agosto 19, 2025

O seu familiar com demência fica mais agitado ao final do dia? O Guia Completo para tornar este momento mais calmo

Tempo de Leitura: 4 minutos

Hoje vou mostrar-lhe como gerir a agitação ao final do dia na demência através de um plano passo-por-passo.

Este é um momento que desgasta muitas famílias e... é normal. Chama-se Síndrome do Pôr-do-Sol e prende-se com o facto do "relógio biológico" estar comprometido.

A maioria das pessoas tenta explicar melhor, falar mais alto, distrair de qualquer maneira, mas com pouco sucesso. Porque o que está a falhar não é o esforço, é a falta de método e antecipação.

A Síndrome do Pôr do Sol não é para lhe fazer a vida negra. É um cérebro em estado de pânico.

Em primeiro lugar, é importante alinharmos expectativas.

A agitação ao final do dia ou "Síndrome do Pôr do Sol" afeta 6 em cada 10 pessoas com demência. Vai sempre acontecer. Não há forma de a eliminar completamente.

O objetivo não é fazer desaparecer. É tornar estes momentos menos intensos, mais curtos e menos destrutivos para as relações.

Se preparar esta altura do dia, pode reduzir a duração e intensidade em 60-70%. Sem preparação, cada dia pode tornar-se uma batalha.

Aqui segue o passo-a-passo que recomendo às famílias que acompanhamos:

Passo 1 - Compreender os gatilhos específicos

Uns dias são melhores do que outros, porquê?

- Fatores meteorológicos: dias muito quentes, mudanças de pressão atmosférica ou tempestades podem intensificar a agitação.
- Fatores físicos silenciosos: infeções urinárias assintomáticas, prisão de ventre ou desidratação subtil.
- Sobrecarga sensorial acumulada: visitas matinais, consultas médicas ou mudanças na rotina criam “fadiga cerebral”.

Ou simplesmente... quando a pessoa não se sente útil.

Passo 2 - Reconhecer os sinais (14h-16h)

Inquietação, olhar perdido, frases repetidas, mexer em objetos sem propósito. Quando estes sinais aparecem, ative o protocolo. Não espere que “passe sozinho”.

Passo 3 - Reduzir estímulos (16h-18h)

- Televisão: volume a 30% do habitual
- Luzes: substitua por candeeiros de mesa
- Conversas: máximo 2 pessoas a falar
- Telefone: desligue ou coloque em silêncio
- Cortinas: vá baixando gradualmente.

Passo 4 - Antecipar necessidades básicas (de hora a hora)

- Ofereça água (3-4 goles, não um copo cheio)
- Verifique temperatura (vista ou retire uma peça)
- Acompanhe à casa de banho (mesmo que diga que não precisa)
- Ofereça algo doce (1 bolachinha, não uma refeição)

Passo 5 - Implementar Rotinas de Segurança (18h-20h)

- Mesma música calma todos os dias
- Mesma cadeira, mesma manta
- Mesma bebida quente (chá, leite)
- Mesmas palavras: “está tudo bem, pode ajudar-me a fazer isto?"
- Oferecer uma tarefa em que possa estar envolvido (que seja significativo)

Passo 6 - Validar sem corrigir (quando a confusão aparecer)

- Em vez de: “Está em casa, não precisa de ir a lado nenhum”, experimente: “Vamos a isso” e vão dar um passeio.
- Em vez de: “Já jantou há uma hora”, pergunte: “Tem razão, hoje atrasei-me a fazer o jantar. Enquanto espera, quer ajudar-me nisto...?”

Lembre-se: vão existir dias maus, dias em que nada resulta. Não é falha sua. É a natureza imprevisível da demência.

Um abraço,

Filipa

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